Links Patrocinados

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

INTELIGÊNCIA DO CORAÇÃO

Uma tarde, Terry voltava para casa, num trem suburbano de Tóquio, quando entrou um operário enorme, belicoso e muito bêbado.
O homem, cambaleando, se pôs a aterrorizar os passageiros: gritando palavrões, avançou para uma mulher com um bebê no colo e jogou-a em cima de um casal de velhos, que se levantaram e iniciaram uma debandada para o outro extremo do vagão. O bêbado, fazendo outros ataques (e, em sua raiva, errando), agarrou a coluna de metal no meio do vagão com um rugido e tentou arrancá-la.
Nessa altura Terry, que estava no auge da forma física com as oito horas de exercício no Aikidô, sentiu-se chamado a intervir, para que ninguém se machucasse seriamente. Mas lembrou-se das palavras de seu mestre:
- O Aikidô é a arte da reconciliação. Quem quer brigar já rompeu a ligação com o universo. Quem tenta dominar as pessoas já está derrotado. Nós estudamos como resolver o conflito, não iniciá-lo.
Na verdade, Terry concordara, ao iniciar as aulas com o professor, em jamais puxar uma briga e usar sua arte marcial só para defesa. Agora, finalmente, via uma oportunidade de testar suas habilidade no Aikidô na vida real, no que era visivelmente uma ocasião legítima. Assim, com os outros passageiros sentados paralisados em seus bancos, ele se levantou, devagar e com determinação.
Ao vê-lo, o bêbado rugiu:
- A-ha! Um estrangeiro! Você precisa uma lição de boa educação japonesa!
E começou a preparar-se para enfrentar Terrry.
Mas no momento mesmo em que o bêbado ia fazer seu lance, alguém deu um grito ensurdecedor e curiosamente alegre:
-Ei!
O grito tinha o tom animado de alguém que encontra de repente um amigo querido. O bêbado, surpreso, girou e viu um japonesinho minúsculo, provavelmente na casa dos setenta, ali sentado vestindo um quimono. O velho sorria radiante para o bêbado e chamou-o com um aceno e um cantado “Vem cá”.

O bêbado aproximou-se com um beligerante “Por que diabos eu vou falar com você?” Enquanto isso, Terry estava preparado para derrubá-lo num momento se ele fizesse o menor movimento violento.
- Que foi que você andou bebendo? - perguntou o velho, os olhos radiantes para o operário bêbado.
- Eu bebi saquê, e não é da sua conta - berrou o bêbado.
- Ah, isso é maravilhoso, absolutamente maravilhoso - respondeu o velho, num tom simpático. - Sabe, eu também adoro saquê. Toda noite, eu e minha mulher (ela tem sessenta e cinco anos, você sabe), a gente aquece uma garrafinha de saquê e vai tomar no jardim, sentados num velho banco de madeira...
E continuou falando de um pé de caqui em seu quintal, do destino do jardim, de saborear saquê à noite.
O rosto do bêbado começou a suavizar-se enquanto ouvia o velho, afrouxou os punhos.
- Ééé... Eu também adoro caqui... - disse, a voz morrendo.
- Sim - respondeu o velho com uma voz animada - e tenho certeza de que tem uma esposa maravilhosa.
- Não - disse o operário. - Minha esposa morreu.
Soluçando, lançou-se numa triste história de que perdera a esposa, a casa, o emprego, a vergonha que sentia de si mesmo.
Nesse momento, o trem chegou na estação de Terry, e quando ele ia saindo, voltou-se e ouviu o velho convidar o bêbado a sentar-se junto dele e contar-lhe tudo, e viu o bêbado arriar no banco, a cabeça no colo do velho.
Isso é brilhantismo emocional!

Sem comentários:

Enviar um comentário